domingo, 6 de janeiro de 2013

O dia em que o meu peixe morreu

Texto escrito em outubro de 2011 por Juliana Demarchi, voluntária do Underground em Campinas


 Meu peixe morreu. Kibuk, ou Kibe, para os íntimos, era um peixe simpático, introvertido, mas sempre companheiro. Era habilidoso em caçar artêmias no aquário e amava construir ninhos de bolhas nos cantos do seu habitat. Meu marido, Felipe, que é professor, ganhou o Kibe de alguns alunos, há cerca de um ano e meio. Era a coisa mais fofa do nosso mundo!

 Há alguns meses, Kibe ficou muito doente e parou de comer. Como foi difícil! Éramos responsáveis pelo bichinho. Vê-lo cabisbaixo, sem se alimentar, dava-nos uma sensação horrível. O dono da loja de aquários nos vendeu um fungicida, mas avisou: vai viver só mais alguns dias.

 Mas o Kibe era muito forte! Não só viveu muitos dias, mas se recuperou e voltou a ser o peixinho de antes. De algumas semanas pra cá, outro susto. Ele adquiriu todas as doenças possíveis identificadas na bula do fungicida: pontos brancos, olhos inchados, fungo da boca, nadadeiras roídas, buracos na cabeça.

 Mas sempre forte. Dessa vez não parou de comer, exceto esta semana. Ontem, ao chegarmos do trabalho, o Kibe estava branco. Ele não conseguia mais nadar, só ficava na margem da água para conseguir respirar. Ficamos muito tempo com ele, eu orava para Deus não deixar que ele sofresse. Continuou ali: às vezes conseguia nadar um pouco, mas sempre na margem. Comeu um pouco, lavamos o aquário e ele continuou vivo. Forte.

 Hoje à tarde, quando olhei, o Kibe estava morto, deitadinho nas pedras. Acabamos de chegar do seu enterro. Não tive coragem de fazer nada com ele, exceto colocá-lo numa caixinha e enterrar. Para mim, a Igreja é como meu peixe. Aliás, historicamente, o peixe é o símbolo da igreja (Icthus, em grego). O Kibe me faz lembrar o logotipo da Portas Abertas: a representação do peixe com um arame farpado em seu dorso.

 O fato de não poder tocar, afagar, abraçar meu peixinho, como faria com outro animal de estimação, não me impede de estar ao lado dele. O mesmo ocorre com meus irmãos da Igreja Perseguida. Se o carinho por um pequeno animal me faz ter atitudes de amor, quanto mais nossa querida família! Não conhecê-los pessoalmente nem poder abraçá-los não me impede de estar ao seu lado.

 As feridas que a Igreja Perseguida recebe são imensas e profundas. Mas, forte, ela luta até o fim, conforme diz a Palavra: "Sê fiel até a morte". Ela decide lutar todos os dias, lutar para sobreviver, lutar para viver, lutar para resplandecer a glória de Deus.

 Ela não desiste. Deus sempre a honrará, ainda que nós não estejamos a seu lado. Mas estar a seu lado significa obedecer a Deus, significa que somos abençoados, porque amamos uns aos outros. E somos responsáveis por aqueles que amamos.

 Quando penso em pessoas que já partiram, como o Pastor Haik Hovsepian, Alfita e suas duas amigas e Roy Pontoh, vejo que eles foram fiéis até à morte. Quando me lembro de nomes como Helen Berhane, Elina Das, Tohar Haidarov, Yousef Nadarkhani e Noviana, vejo que são provas vivas da fidelidade de Deus.

 Nessa caminhada lado a lado, quando pensamos que não há mais saída, que é o fim, a fraqueza vira força e a Igreja se supera e prevalece. E mesmo quando o fim vem, o Espírito Santo nos lembra que isso é só o começo.

 "Meu ardente desejo e minha esperança são que em nada serei confundido, mas que, hoje como sempre, Cristo será glorificado no meu corpo (tenho toda a certeza disto), quer pela minha vida quer pela minha morte. Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro", Filipenses 1.20-21.

 *Texto publicado originalmente na Revista Portas Abertas, vol.30 nº4

Fonte:http://www.portasabertas.org.br/
Postado em 06 de janeiro de 2013

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